Quinta-feira, 12 de Agosto de 2010
JACOB - GOULART NOGUEIRA
Ah! da fuga abatido e da viagem,Quando a luz na ilusão esmaecia,Abriguei-me da hora vaga e friaE entrei pela estalagemVinho da noite, roxo e bom, bebi-o(Tão palhetado de oiro!) e embriaguei-me.Na estalagem do campo, então, deitei-me,Fiz da pedra da lua o travesseiro.E uma esfera de vidro, em rodopio,Mostrou-me no meu vulto verdadeiro.Anjo longo de cinza, erguendo asasDe papoula e de rubra lassidão,Todo nu, diamante de abandono,Despenhei serpentinas com as mãos rasasDe sono,Num labirinto de revelação.E foram hélice onde me gerava,Foram liames dando-me hausto e espaço.E foram vórtice onde me firmava.Foram golpes, fronteiras e abraço.Mas era bem um Anjo o Anjo estranho,Ou uma escadaria em cinza envolta?Cravou seus pés no chão endurecidoE, sem topo, nem vulto, nem tamanho,Pelos céus ia a escada etérea e solta.Era uma ressonância e era o ouvido,Enquanto a percorria firme escolta.Desciam os revólveres por ela...Revólveres? Ai! anjos pequeninos,Longos e nus, de cinza rija e bela.E, subindo, eram sóis, flores de Vida,Prenúncios e anúncios, como sinos,De jardins duma Vida desmedida.Anjo de cinza é morte,Escada para a Vida, um halo infindoQue fica nos revólveres mais forte.E, a cada morte em nós, vamos subindo.Goulart Nogueira