Escrevi este texto em Novembro de 2010, portanto há quase dois anos! Desde então tudo piorou. Do texto só uma linha não está actual!
Apesar das manifestações, os resultados das sondagens indiciam claramente que os portugueses continuam a esperar que os mesmos comportamentos de sempre tenham resultados diferentes do que tiveram no passado, continuando a acreditar piamente que são os responsáveis (à vez) do estado do país, que o vão salvar no futuro!
UMA LENTA AGONIA.
É esta a situação vivida por larguíssimos milhares de portugueses que vão “vivendo” a vida dia-a-dia sem quaisquer perspectivas de futuro.
Os empresários sem saberem se no dia seguinte vão conseguir honrar os seus compromissos nas empresas que detêm, os trabalhadores sem saberem se ainda vão ter emprego, se vão ter dinheiro suficiente para pagar a prestação ou a renda da casa, restringindo cada vez mais as suas despesas; muitos sem saberem sequer se vão conseguir ter dinheiro para dar de comer à família.
E milhares e milhares que já chegaram a um ponto de desespero e desânimo total. Mais de 600.000 desempregados, grande parte de cada vez mais longa duração e sem subsídio de desemprego, mais algumas centenas de milhares reformados a receber duas ou três centenas de euros por mês que têm de dar para comer e para os remédios... (um parêntese apenas para frisar que triste país este que trata os seus anciães da forma que vemos)
Ao mesmo tempo, temos uma classe política que na sua generalidade está perfeitamente “nas tintas” para a situação de que é principal responsável (sendo é verdade co-responsáveis os que neles votaram e continuam a fazer). Uma classe política que vai continuando na senda da política rasteira perfeitamente indiferente às consequências para o povo do seu comportamento. Uma classe política que declara estar a fazer tudo para propiciar a saída da crise mas que pelo seu comportamento irresponsável vai agravando a situação diariamente! Uma classe política que diz estar muito preocupada mas permite que aqueles que colocou no poder em empresas e organismos públicos continuem a gastar à “tripa-forra” esbanjando milhares e milhares de euros em ordenados pornográficos sem qualquer contrapartida visível a nível do trabalho desenvolvido, em despesas ditas de representação, em festas e outras encomendas que, sejamos claros, lhes rendem pessoalmente e aos partidos de que fazem parte boas comissões. E por essa razão, e só por ela, não são cortadas mesmo em tempos de aperto. Uma classe política que está de tal maneira desligada do país real que nem sequer compreende o mal que faz com a permanente gincana política. Como pequeno empresário, sei bem do que falo - a cada episódio da crise política e das suas possíveis consequências na economia no telejornal das 20 h correspondem mais faltas e desmarcações de clientes logo nos dias seguintes!
E temos um governo que diz estar preocupado com a situação mas mostra uma incapacidade total para diminuir a despesa, isto dando já o benefício da dúvida de haver sequer essa vontade… Um governo que diz tomar medidas de apoio às empresas mas depois não paga o que prometeu atempadamente. Um governo que deita as culpas do resultado da sua inoperância para cima de uns abstractos “especuladores”. Um governo que mantém a despesa pública em níveis elevados estrangulando assim as hipóteses das pequenas empresas terem acesso ao crédito (a este propósito sabiam que a maioria dos bancos já não empresta nada a micro-empresas, nem sequer havendo crédito bonificado e com garantia oficial de 50% dos montantes?). Um governo minoritário que chantageia o principal partido da oposição, tentando de forma quase ditatorial impor as suas políticas, que claramente têm ajudado a afundar mais o país.
Um Estado caloteiro que demora dez meses, um ano e por vezes mais a pagar o que encomendou sem qualquer penalização enquanto o contribuinte que se atrasa um dia que seja nas suas obrigações tem logo coimas, juros e outras penalizações em cima.
Uma sociedade onde se aceita perfeitamente que alguns, por subterfúgios e trafulhices várias (sejam elas licenciaturas concluídas ao domingo, novas oportunidades de obter diplomas académicos com facilidade ou apenas cargos principescamente pagos propiciados pela detenção do cartão de militante do partido no poder), ascendam socialmente com a maior das facilidades enquanto quem se esforçou a trabalhar e a estudar não sai da cepa-torta!
E os portugueses, em vez de se revoltarem, limitam-se a ir criticando na rua e a fazerem umas greves sem consequências, mas na hora da verdade acabam a votar nos mesmos de sempre! Até quando?
ACORDEM!
João Carvalho Fernandes
QUADRO DE HONRA