Quinta-feira, 29 de Abril de 2004
POLÍTICA DO CARIMBO - PAULO FERREIRA DA CUNHA
Um excelente artigo do Prof. Paulo Ferreira da Cunha, publicado ontem na revista "Tempo".POLÍTICA DO CARIMBOUma das formas de abaixamento do nível da política é o uso do carimbo pejorativo.Esta agressão simbólica tem o gosto mórbido de eleger uns monstros, uns inimigos míticos, e neles vê todo o Mal, a partir de uma primária mística e de uma elementar teoria da conspiração. Política do ferrete, do labéu, do estigma, acusa comunismo, fascismo, judeu, muçulmano, capitalismo, Estado, grande Satã, infiel - o outro
O carimbador usa os rótulos como cacetadas: é primário, sobranceiro, e vive de subentendidos com o seu público. Não se dá ao luxo de argumentar que o judeu ou o muçulmano é o culpado: morte! Não sabem todos que o Estado é o mau da fita? Acabe-se. Saramago terá sido saneador e é candidato pelo PCP? Pois é um analfabeto, e o mundo anda todo enganado com uns comunistas que lhe deram o Nobel. Boaventura não agrada a Físicos? Pois então não vale nada como sociólogo, é uma fraude. Soares terá sugerido diálogo com os terroristas? Nem sei o que lhe chamam
Durante o Estado Novo, as paredes do ódio dos ultras chamavam-lhe Judeu. Monteiro é contra esta constituição europeia e considera inconstitucional a revisão que lhe abre a aporta? Pois é um anti-europeísta, influenciado por manuais do Estado Novo.Colectivistas vêem monstros no capitalismo, burguesia, fascismo, liberalismo, etc.Autoritários e pró-capitalistas abominam comunismo, ralé, canalha, operários, sindicatos, URSS, etc.Há heróis mitificados para os vários gostos. Há livrinhos negros ou vermelhos quais bíblias para os ideólogos de várias cores, que deles tiram citações decisivas com que julgam fulminar os adversários, quais encarnações do diabo. E os extremistas levam estes sentimentos, contidos e racionalizados nos moderados, a zénites de demência. Intelectuais orgânicos velam pela pureza e despacham excomunhões.Defendendo uma democracia liberal, social e de valores (acabo de ser convidado para o congresso dos Liberais Europeus) abomino todos os autoritarismos. Não aprecio os gurus do politicamente correcto. Todos podem ser criticados. Mas nunca com argumentos sem argumento. Jamais avaliando qualidade literária por passado político, confundindo o rosto com a alma, apelando para o primarismo de grupo que tem como santo-e-senha os esgares, os risinhos e os preconceitos comuns qual claque futebolística de hooligans. É grave taxar de hereges ou tontos os que pensam de maneira diferente.Tal política carimbadora não terá, na sua essência, uma inquisitorial obstinação pela pureza princípio de todo o fanatismo? Paulo Ferreira da CunhaProf. Catedrático de Direito
De
João a 29 de Abril de 2004 às 22:58
Muito bem. É caso para dizer: "agarrem-me senão ainda peço asilo político nas andorinhas!". Abraço.
Parece-me um texto que deixa mais por dizer do que dito...
É uma opinião...
Um abraço,
Francisco Nunes
De
Jazzy a 29 de Abril de 2004 às 15:19
Pode-me ter escapado algo, mas o próprio artigo é uma sucessão de "carimbadelas".
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