PREOCUPANTE, MAS PREVISÍVEL...
Daqui a algum tempo, virá alguém dizer "pois, deviamos ter agido, foi um erro". Mas agora dirão que não é bem assim, que são alarmismos de extremistas anti-europeus...As notícias (via
Ecletico e
Que Universidade? ):
Processo de Bolonha pode retirar superior a Portugal Terça-feira, 23 de Novembro de 2004 O Processo de Bolonha pode vir a retirar o ensino superior a Portugal. O alerta parte de Alberto Amaral, presidente do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior, e tem por base um documento de trabalho que aconselha os países mais longe da «fronteira tecnológica», onde se inclui Portugal, a concentrarem-se no «ensino primário e secundário».Assim, o grande perigo de Bolonha é introduzir um ensino superior europeu a duas velocidades, beneficiando os países que estão perto da «fronteira tecnológica» e discriminando os Estados membros mais atrasados na corrida à inovação. Para Alberto Amaral - que falava ontem na Sessão Solene de Entrega de Diplomas da Faculdade de Economia do Porto -, o sistema de harmonização do ensino superior na Europa poderá, à semelhança do que se passa na Política Agrícola Comum, introduzir o conceito de «quotas educativas».Deste modo, Portugal «dedicar-se-ia ao ensino primário e secundário e com alguma sorte teria, também, a leccionação do primeiro ciclo de Bolonha». Os melhores alunos poderiam concluir depois os estudos, nomeadamente o mestrado e doutoramento, noutros países da União Europeia «mais próximos da fronteira tecnológica». Por outras palavras, o relatório da Comissão Europeia, desenvolvido pelo grupo de trabalho do «Implementation of Education and Training 2010 - Work Programme», propõe que o ciclo da inovação seja retirado a Portugal, um país que se limitaria a perpetuar o «ciclo da imitação». Este cenário levou Alberto Amaral a afirmar, perante uma assembleia de professores e dirigentes universitários: «Depois não se queixem por andarem a dormir, ou por não terem sido avisados.» A grande questão deste processo de harmonização do ensino superior europeu não é, assim, para Alberto Amaral, uma questão pedagógica. Para o presidente do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior, existe mesmo «uma agenda oculta de Bolonha»: a economia. O pano de fundo para as transformações que se avizinham nas universidades e politécnicos europeus é «a competitividade económica num sistema globalizado» e «os problemas dos salários europeus muito elevados». A ênfase é colocada no conceito de «empregabilidade», o que confere ao indivíduo a total responsabilidade para conseguir um trabalho.O mesmo documento de trabalho afirma ainda que o financiamento público da educação não deve aumentar. Pelo contrário, o acesso aos patamares mais elevados da educação e formação deve ser suportado pelos próprios ou através de parcerias público-privadas. Isto para resolver um dos problemas da Europa: manter-se «competitiva num mercado económico global» quando já não tem recursos para «as políticas tradicionais do Estado-Providência». (in:
Diário de Notícias)
Alberto Amaral Duvida de Bolonha Terça-feira, 30 de Novembro de 2004 A pergunta, óbvia naquela altura, saiu da assistência. "Mas afinal vê alguma vantagem no Processo de Bolonha?" Alberto Amaral, presidente do Centro de Investigação das Políticas do Ensino Superior (Cipes), sorriu e respondeu de pronto. "Bolonha poderá ter efeitos positivos se corresponder a um novo paradigma do ensino superior. Tenho é muitas dúvidas de que isso venha a ser feito." Naquela que foi a quarta palestra do ciclo de Conferências de Outono, organizadas anualmente pela Faculdade de Letras do Porto, Alberto Amaral traçou ontem um retrato negro da aplicação da Declaração de Bolonha, assinada em 1999 com o objectivo de criar um espaço europeu de ensino superior até 2010. Para o ex-reitor do Porto, há vários aspectos relacionados com Bolonha que são tudo menos democráticos. Apenas um exemplo, referiu: por várias vezes, representantes de universidades de toda a Europa manifestaram-se contra a introdução de um sistema de acreditação. Alberto Amaral garante, porém, que "de Bruxelas" há já a indicação de que serão criadas várias agências de acreditação em cada país, secundadas depois por um sistema "para acreditar estas agências". Na prática, explicou, as agências caseiras farão uma acreditação "nivelada por baixo", enquanto a europeia basear-se-á "em padrões de grande exigência, atribuindo uma espécie de selos de qualidade". "Aposto que entre as 500 melhores universidades não haverá nenhuma portuguesa", arriscou. A concretizar-se este modelo, disse ainda, "a Europa vai mover-se de um sistema diversificado de ensino superior para um sistema estratificado pela acreditação". Na semana passada, Alberto Amaral revelou a existência de um documento de trabalho da Comissão Europeia que aconselha os países mais afastados da "fronteira tecnológica", como é o caso de Portugal, a concentrarem-se no ensino primário e secundário. Nesse sentido, em termos de ensino superior, Portugal poderia apenas aspirar a leccionar o primeiro ciclo de estudos - Bolonha prevê que os cursos passem a estar organizados em dois ciclos de formação. Ontem, o presidente do Cipes criticou o Governo por ainda não ter reagido às sugestões da Comissão. S.S.C. (in:
Público)