Segunda-feira, 5 de Setembro de 2005
MAIS UMA VEZ TUDO FICARÁ NA MESMA?
A semana passada ficou marcada pelas graves acusações que o vice-presidente e vereador do Urbanismo da Câmara Municipal do Porto proferiu, acusando várias autarquias do país de cederem a pressões de empreiteiros e partidos políticos para viabilizar certos projectos urbanísticos, tendo-se também queixado de ter sido vítima de algumas dessas pressões.Já em Março deste ano o fiscalista Saldanha Sanches havia acusados alguns autarcas (em número assustador) de exigirem luvas para permitir a instalação de empresas.Em ambos os casos surgiu logo o Dr. Fernando Ruas, presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) a fazer o papel de virgem ofendida, exigindo aos acusadores que não generalizassem e que indicassem precisamente a quem se referiam, insinuando claramente que não haveria autarca algum corrupto. Também em ambos os casos se falou na instauração de inquéritos (múltiplos) e houve ameaças de processos judiciais.É triste que estes casos levem a reacções corporativas destas que só ajudam a cavar ainda mais o fosso entre a sociedade e a classe política. Este tipo de acusações deveria ser tomado como o que pretende ser um contributo para melhorar a transparência e a seriedade que deveriam guiar eticamente o comportamento dos autarcas e para que as regras sejam cumpridas. No entanto este tipo de reacções só contribui para piorar ainda mais a péssima imagem da classe política e para que as pessoas passem a generalizar cobrindo todos sob o manto da corrupção e da falta de ética.E dado que nos casos que chegam a julgamento se assiste (como se passou recentemente em Águeda) a uma demissão do poder judicial, que apesar da existência de várias provas valoriza mais os depoimentos dos implicados dando os factos como não provados, pouca esperança resta de que o panorama se altere. A impunidade e o desrespeito pelas leis, a defesa de interesses individuais menos claros e a governação de uma minoria que por ter sido eleita se julga com o direito de fazer o que bem lhe aprouve e que tem tendência a transformar um estado providência para a maioria num estado providencial para uma minoria. só acabarão quando finalmente a maioria das pessoas souber dizer NÃO e mudar de classe política!