Quinta-feira, 26 de Janeiro de 2006
ESTÁTUA FALSA - MÁRIO DE SÁ CARNEIRO
Só de ouro falso os meus olhos se douram;Sou esfinge sem mistério no poente.A tristeza das coisas que não foramNa minha'alma desceu veladamente.Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,Gomos de luz em treva se misturam.As sombras que eu dimano não perduram,Como Ontem, para mim, Hoje é distância.Já não estremeço em face do segredo;Nada me aloira já, nada me aterra:A vida corre sobre mim em guerra,E nem sequer um arrepio de medo!Sou estrela ébria que perdeu os céus,Sereia louca que deixou o mar;Sou templo prestes a ruir sem deus,Estátua falsa ainda erguida ao ar...Mário de Sá Carneiro